Esse trabalho tem como objetivo relatar e discutir uma proposta pedagógica para aulas de língua inglesa como língua estrangeira, utilizando o gênero textual digital e multimodal ' Meme'. Com base na teoria e pedagogia dos multiletramentos(Kalantzis & Cope, 2012; 2015), o estudo relata uma oficina que foi apresentada em função do projeto DOLFER, elaborada pelos professores de Letras Português, Inglês e Espanhol da universidade estadual da Paraiba para auxiliar os professores da educação básica nessas disciplina no ensino remoto, durante a pandemia do COVID-19.
Memes; ensino remoto; Inglês; Gênero digital
Março de 2020: um novo começo para a educação no mundo. Um vírus, chamado Covid-19, começou a se expandir no planeta Terra, matando milhares de pessoas. Devido a esse grande ‘susto’, muita coisa ficou diferente: países e cidades, literalmente, pararam de funcionar: de supermercados a escolas e universidades pelo mundo. Por conta desse inesperado panorama, surgiu uma ‘nova’ alternativa de ensinar e aprender do qual hoje, novembro de 2020, chamamos de ensino remoto.[1]
No ensino remoto, as escolas tiveram que se adequar com essa ‘desafiadora’ forma de ensinar usando as tecnologias de informação e comunicação (TICs) que usamos no cotidiano: o computador e celular. Como tem sido tudo novo, problemas de todo tipo surgiram para os professores. Que ferramentas usar? Como usá-las para motivar nas aulas remotas? Como organizar atividades para engajar os alunos na aprendizagem? Essas e outras foram dúvidas de milhares de professores da educação básica e superior do Brasil em como lidar com o ensino e aprendizagem dos alunos utilizando as TICs.
Com base nesse contexto, e partindo da necessidade de ajudar os professores de Português, Inglês e Espanhol da educação básica no estado da Paraíba no ensino remoto, nós - sete professores do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande - resolvemos oferecer apoio para as ações pedagógicas dos professores para esse ensino. Criamos o projeto DOLFER – “Docentes em Línguas em Form(ação) para o ensino remoto” - no dia 10 de junho de 2020 e, no dia 11, tendo sido aprovado pelo colegiado do departamento. Depois desse dia, os membros do projeto começaram a planejar as atividades do projeto.
O projeto ofereceu as seguintes atividades: (1) oficinas sobre o uso das TICs; (2) suporte didático-metodológico no ambiente virtual; (3) criação de banco de atividades e sequências didáticas a serem adaptadas pelos professores com base em seus contextos de ensino; (4) rodas de conversas online com professores da educação básica e (5) mesa redonda através de Lives.
Uma das atividades do projeto foi a oficina “Uso dos Memes em aulas remotas: proposta pedagógica”,[2] ministrada por mim com o professor de inglês do estado da Paraíba, Anderson Nicácio Medeiros Almeida. É, portanto, objetivo desse artigo, a apresentação dessa oficina, à luz da pedagogia dos Multiletramentos (KALANTZIS & COPE, 2012; 2015), para discutir como os Memes podem ser explorados no ensino remoto nas aulas de inglês. O artigo termina com uma proposta pedagógica usando os Memes e algumas considerações finais sobre a proposta.
O termo ‘letramento’ apareceu no Brasil na década de 80 a partir do trabalho de Mary Kato, para identificar as práticas sociais da leitura e da escrita. Comparada com a alfabetização – processo pelo qual o usuário da língua(gem) adquire conhecimento do código linguístico – ‘letramento’ requer a capacidade de produzir e compreender a linguagem em práticas sociais do cotidiano. No Brasil, vários estudos sobre o letramento vêm discutindo as condições de uso da escrita em distintos contextos sociais (KLEIMAN, 1995). Pesquisar como as práticas de letramento de grupos minoritários funcionam e que repercussões sociais e linguísticas elas significam em seus contextos sociais são exemplos de investigações na área de Linguística Aplicada (KLEIMAN, 1995).
Além dessas pesquisas, com o advento da internet e com o impacto das TICs nas interações sociais, o estudo sobre letramento no mundo começou a ser redirecionado. Por conta dessas mudanças, o grupo de nova Londres (GNL), composto por acadêmicos internacionais, iniciou em setembro de 1994 um debate sobre o futuro do letramento e seu impacto para a educação. Tal discussão resultou num novo termo a ser usado para os estudos de letramento: os multiletramentos (KOBAYASHI, 2019; KALANTZIS & COPE, 2012).
A proposta dos multiletramentos do GNL vem se fortalecendo como uma alternativa de abordagem de ensino na educação. Essa abordagem apresenta aspectos que culminam em novas formas de ler, escrever, ensinar e aprender: os dois ‘multis’ conforme explicado por Kalantzis & Cope (2012; 2015) . O primeiro ‘multi’ se refere à multimodalidade. Esse aspecto se refere aos distintos modos de linguagem (escrita, áudio, gestos, cor, espaço, layout, etc.) que são interconectados nas práticas sociais do cotidiano para expressar diversos significados (KALANTZIS & COPE, 2012). Conforme a explicação de Kalantzis e Cope (2012, p.283), “cada modo tem seus próprios significados de interconectar as partes componentes do significado” (tradução minha).
A combinação desses modos de linguagem, integrando um espaço comunicativo de interação, define-se como prática social multimodal (CAZDEN et al,. 1996; KALANTZIS & COPE, 2012, 2015). Para ilustrar como esses modos atuam em nossa sociedade mediada pelas TICs, podemos verificar como as interações sociais vêm sendo realizadas entre as pessoas. Em espaços de mídia digital como Whatsapp e Instagram, o modo escrito com áudio, emojis ou vídeos vêm sendo bastante usados entre as pessoas, tornando as conversas digitais cada vez mais multimodais.
O segundo ‘multi’ lida com o aspecto da diversidade social nas práticas sociais. De acordo com a explicação de Kalantzis e Cope (2012, p. 3), a diversidade social condiz com a “(...) variedade de convenções de significado em diferentes situações culturais, sociais ou de domínio específico” (tradução minha). Ou seja, esse aspecto se preocupa com diferentes grupos etnoculturais, ambientes comunitários, variedades linguísticas, minorias, papéis sociais dos alunos, gênero, orientação sexual, experiências de vida, estilos de habitação, formas de entretenimento, deficiências, etc. O GNL traz esse aspecto à tona na pedagogia dos multiletramentos relacionados à responsabilidade dos educadores de ajudar os alunos a compreender a diversidade linguística-social e, sobretudo, desenvolver tolerância e respeito pelas diferenças. Como Kalantzis e Cope (2012, p. 56-57) pontuam, para viver na sociedade digital contemporânea, os alunos devem aprender a “negociar a diversidade”, lidar com “expectativas complexas e mutáveis” no trabalho, estar “cientes da cidadania multicultural”, desenvolver “ética, responsabilidade e resiliência da comunidade”.
Conhecidos como “(…) forma social de organização e expressões típicas da vida cultural”, (XAVIER et. al., 2010, p. 19, tradução minha), os gêneros textuais (GTs) refletem as estruturas sociais de nossa sociedade e, portanto, têm estado em constante mudança em termos de suas funções comunicativas sociais e estruturas textuais. Uma das mudanças está no domínio das mídias virtuais. No cenário digital, novos GTs surgiram na internet, gerando impacto nas formas de comunicação entre os indivíduos. Com isso, a linguagem escrita vem sendo bastante usada juntamente com outros modos de linguagem (cor, áudio, layout, etc.) Os gêneros híbridos ou multimodais, é o que temos visto, lido e produzido no mundo digital os quais são definidos, conforme Xavier et. al. (2019), como GTs digitais.
Usando qualquer tipo de GTs digitais, as pessoas costumam compartilhr suas opiniões sobre qualquer assunto da realidade. Os memes são um desses GTs que têm essa função social. Com o advento da internet, as informações no mundo têm se disseminado de forma rápida a ponto dos internautas criarem novas formas de disseminar essas informações para qualquer público. Os Memes foram criados com esse fim para disseminar os assuntos do dia-a-dia como política, problemas ambientais, diferenças de gênero e questões de preconceitos (BORZSEI, 2013; SHIFMAN, 2014). Daí porque, uma vez criados por Richard Dawkin em 1979, os memes são considerados “grupos de unidades de conteúdo” (SHIFMAN, 2014, p. 7) que refletem e moldam as ideias dos usuários sobre o mundo contemporâneo.
No que concerne a sua composição textual, os memes são concebidos como uma comunicação multimodal/híbrida. Eles (ver abaixo na figura 1) incluem uma variedade de recursos semióticos usados para complementar ou enfatizar o significado inicialmente construído com o modo escrito. Esses recursos, dependendo de sua função comunicativa, são 1) áudio, 2) som, 3) cores, 4) voz, 5) movimentos e 6) linguagem corporal das pessoas, mostrado no Meme político abaixo (BORZSEI, 2013).
Ademais, como o "compartilhamento" tem se tornado uma prática social principal entre os internautas (usuários da internet), os memes se tornaram o gênero digital mais recorrente na internet. Além da multimodalidade, dois outros aspectos têm se mostrado fortes componentes para a produção e, consequente, divulgação dos memes: comédia e ironia. A disseminação dos assuntos do dia-a-dia feita de maneira cômica e irônica tem sido uma lógica cultural em nossa comunicação digital através dos memes (SHIFMAN, 2014), como visto no meme abaixo sobre o comportamento das mães perante os filhos desobedientes. O que importa com os memes é se informar se divertindo.
Quanto à classificação, os memes podem ser estáticos ou em movimento. Os estáticos, que foram investigados por Shifman (2014), fazem photoshop de uma imagem através do mecanismo de copiar e colar. Esse é o caso dos memes apresentados nas figuras 1 e 2 acima, e que são categorizados como fotos meméticas. Sua principal característica é a justaposição da imagem e o movimento congelado com a incongruência do texto escrito. Outra característica desses memes é sua natureza simples na escrita e na imagem. Uma vez que seus objetivos é atingir um grande número de leitores, os memes devem ser objetivos, simples em seu conteúdo, fáceis de replicar, usando informações repetitivas com frases curtas em letras maiúsculas para que as pessoas os memorizem facilmente (SHIFMAN, 2014).
Essas características também podem ser vistas em memes móveis, categorizados como vídeos meméticos e Gifs animados (figura 3 abaixo). O que mais diferencia esses memes dos fotográficos são suas características multimodais. Eles contêm áudio, texto escrito (nos GIFs) ou textos orais (nos vídeos), design simples de molduras, cores, linguagem corporal das pessoas, baixo nível de letramento digital, humor irônico e incongruência audiovisual (SHIFMAN, 2014). Outro aspecto importante dos memes é que eles motivam respostas meméticas, manifestando potencial memético e introduzindo um quebra-cabeça ou um problema. Enquanto nas fotos meméticas, o problema gerado é pela aparência do photoshop, nos vídeos meméticos, o problema é gerado pela repetição.
Somado a esssas características, outro aspecto sobre os memes é sua importância social para a participação crítica das pessoas na nossa sociedade. De acordo com Shifman (2014), Borzsei (2013) e Xavier; Souza e Oliveira (2019), todos os memes partem de qualquer ideia ou evento de importância social e, portanto, são rapidamente disseminados nas redes sociais online, contribuindo na manutenção e crítica dos estereótipos sociais. Na figura 2, por exemplo, o meme apresenta uma conduta comum entre as mães por não aguentar seus filhos falando continuamente, mostrando sua expressão facial (sorriso irônico e crítico) com base no que o filho faz (continuar contando uma estória – keep telling a story).
A seguir, apresento e discuto uma proposta pedagógica utilizando os memes nas aulas de LI.
Como última parte da oficina dos memes, conforme explicada na introdução desse trabalho, temos a proposta pedagógica utilizando os memes. Considerando o atual cenário de ensino (ensino remoto), precisávamos esclarecer para os professores alguns aspectos da pedagogia dos multiletramentos. Primeiro, o papel do professor teria que se modificar; passando de ‘dar’ para ‘mediar’ aulas. Segundo, os alunos precisam ser motivados a participar nas aulas, colocando suas vozes, identidades sociais e se posicionando criticamente em discussões. Terceiro, os aspectos da multimodalidade e da diversidade linguística-cultural precisam também ser explorados nas aulas, através de gêneros multimodais conhecidos pelos alunos. Quarto, o trabalho em sala de sala implica em fazer algo que traga benefício para a sociedade e que faça sentido para os alunos, enfatizando com atividades em grupo, e motivando trabalho colaborativo entre os alunos. Por último, as ferramentas digitais precisam ser incorporadas para fins de aprendizagem tanto no momento das aulas remotas como nas tarefas de casa dos alunos. Todas essas questões são aspectos em que a pedagogia dos multiletramentos considera fundamentais no processo de organização e planejamento de aulas no contexto de ensino mediadas pelas tecnologias digitais (Kalantzis & Cope, 2012; 2015).
Logo em seguida, informamos sobre as atividades em que podemos usar os memes. Esses gêneros podem ser utilizados para 1) iniciar um assunto; 2) ativar o conhecimento de mundo dos alunos; 2) explorar a leitura crítica multimodal, pontuando como e por que os elementos multimodais fazem parte dos memes; 3) descrever e análisar o vocabulário e sintaxe nos memes; e 4) produzir memes, ou seja, trabalhar a escrita multimodal.
Utilizando o meme abaixo (figura 4), podemos explorar quatro atividades sobre o tema 'higiene pessoal', contemplando discussões orais, estudo de vocabulário e aspectos gramaticais em inglês como os advérbios de frequência, o tempo do presente simples e superlativo.
Nesse primiero momento, conforme mostrado na primeira e segunda atividades a seguir, o aspecto da diversidade linguístico-cultural tem sido mais explorada na aula (Kalantzis & Cope, 2012). Primeiro, o tema (higiene pessoal) está relacionado com a realidade de cada aluno, isto é, como o que eles fazem cotidianamente. Explorar o estudo de um idioma conectando com a realidade dos alunos, com o que eles fazem (e precisam fazer!) todos os dias - como cuidar da higiene pessoal- pode ser uma forma de trabalhar o segundo 'multi', diversidade linguístico-cultural (Kaltzis & Cope, 2012). Afinal, cada aluno traz, nas discussões orais, seus mundos, suas vozes e suas identidades ao compartilhar suas rotinas de higiene pessoal, exemplo de tema aqui discutido.
Na primeira atividade, exploramos sobre o tema ‘higiene pessoal’, levando os alunos a falar sobre o que usamos no banheiro: soap (sabonete); toothpaste (pasta de dente); hand cream (creme para as mãos); toilet paper (papel higiênico). Esse pode ser o momento de utilizar o conhecimento de mundo dos alunos ou, como Kalantzis & Cope (2012) explicam, de associar a realidade dos alunos para o assunto que vai ser detalhado no meme, incentivando trocas de informações entre os colegas, aspecto a ser estudado no segundo 'multi'.
Na segunda atividade, utilizamos o meme para que os alunos possam visualizar os itens que encontramos no banheiro, pois o meme apresenta o toothbrush (escova de dente) e o toilet paper (papel higiênico). Nesse momento. o quesito da diversidade linguístico-cultural está associado com o primeiro 'multi', o da multimodalidade (Kalantzis & Cope, 2012). A partir da identificação desses itens através do GTD meme, de natureza multimodal, podemos elaborar uma pergunta inicial sobre o que fazemos no banheiro (What do we do in the bathroom?) para começar com o uso do vocabulário sobre ‘higiene pessoal’ nas respostas dos alunos. Como forma de instigar os alunos a participar da atividade, o professor pode explorar um GTD, como o meme, que representa e comunica o tema 'higiene pessoal' através de vários modos de conhecimento: visual e verbal (fala dos 'objetos de higiene' nos balões) (Kalantzis & Cope, 2012). Essa combinação de modos de conhecimento atuando num único espaço comunicativo é o que chamamos de multimodalidade, fortemente presente em GTD como os memes.
Como segunda fase dessa mesma atividade, podemos responder por escrito, como modelo, para instigar os alunos a responder. Ao dizer e escrever no word document, “We brush the teeth with the toothpaste” (nós escovamos os dentes com a pasta dental), podemos explicar que para cada objeto encontrado no banheiro (the toothpaste) existe uma ação correspondente (to brush the teeth). Após essa explicação, podemos falar e escrever alguns itens como soap; shampoo and conditioner; deodorant; perfume; hand cream; toilet paper, para os alunos responderem individualmente e depois compartilharem oralmente suas respostas com a pergunta “What do we do with the soap?”, com base no exemplo do professor “We brush the teeth with the toothpaste”.
Na terceira atividade, podemos enfatizar sobre os advérbios de frequência, explicando a sentença dita pela escova de dente “Sometimes I feel that I have the worst job in the world” (Às vezes eu sinto que tenho o pior trabalho no mundo). Mostrando que “Sometimes” é um dos advérbios de frequência em inglês, podemos inicialmente perguntar aos alunos por que a escova de dente está dizendo essa pergunta. Nessa fase da aula, o professor começa a explorar o uso da linguagem com a função social da escova de dente, mostrada no meme. Ou seja, o ensino da língua está sendo apresentado de forma contextual, pontuando novamente o aspecto da diversidade cultural ( Kalantzis & Cope, 2012;2015). A partir daí, o professor pode, inclusive, explicar o porquê da escova de dente ter o pior trabalho do mundo ( " the worst job in the world"). Aspectos como precisamos escovar os dentes para eliminar cáries, por exemplo, podem ser pontuados na sala. Fazendo isso., o professor não somente ensina a leitura do meme mas também da implicação da leitura na vida dos alunos.Como consequência, os alunos podem falar que a boca algumas vezes fica suja devido à má escovação dos dentes. E que precisamos escová-los muito bem para evitar cáries e outras doenças bucais. Com essa discussão, o professor pode trazer à tona não somente a questão da higiene bucal, mas também da frequência que devemos escovar os dentes.
A forma como o professor discute sobre a importância de escovar os dentes pode direcionar para a fase de explorar o aspecto linguístico: o uso dos advérbios - Always (sempre), often (frequentemente), usually (geralmente), sometimes (às vezes), seldom (raramente).
Depois, numa quarta atividade, podemos colocar uma pergunta com os itens do banheiro para os alunos responderem com os advérbios “ How often do you wash your hair, brush your teeth, spray perfume in your body, use cream in your body, etc.?”(Com que frequência você lava seu cabelo, escova os dentes, colcoa perfume no seu corpo, usa creme no corpo, etc.?). Tendo como base essa pergunta a resposta do professor como modelo “I always brush my teeth after the meals” (Eu sempre escovo meus dentes depois das refeições), os alunos são orientados para responder individualmente, escrevendo primeiro suas respostas, para depois compartilhar com seus colegas em um trabalho em pares, por exemplo.
Essa última atividade retoma o aspecto da diversidade linguístico cultural da pedagogia dos multiletramentos ( Kalantzis & Cope, 2012). Sendo de forma escrita, os alunos são orientados a falar sobre a frequência com que eles usam os objetos de higiene pessoal e para qual função. Ou seja, eles estão relatando suas rotinas, usando o aspecto linguístico ensinado ( advérbios de frequência), para depois compartilhar suas respostas com seus colegas. Ou seja, a última atividade apresenta uma dupla função que é a de estudar quanto ao uso dos advérbios de frequência com os vocabulários de higiene pessoal e de trocar conhecimentos sobre suas rotinas sobre o referido tema.
Desde a ativação do conhecimento de mundo dos alunos sobre o assunto ‘higiene pessoal’ até o uso do vocabulário e advérbios de frequência estudados em sala nas atividades, a proposta pedagógica com os memes, previamente discutida, enfatiza tanto o aspecto da multimodalidade como da diversidade social, pontuados pela pedagogia dos multiletramentos (Kalantzis & Cope, 2012; 2015). A diversidade social pode ser vista quando o professor instiga a resposta dos alunos sobre o uso adequado dos itens de higiene pessoal, mostrados no meme, para eles serem limpos. Cada aluno apresenta uma determinada resposta, e a questão do respeito às diferenças de respostas dos alunos é enfatizada nesse momento. Por sua vez, a multimodalidade pode ser explorada nas atividades 1 e 2, sobretudo em momentos em que os alunos verificam o que vêem e lêem no meme, e em como a informação visual do gênero os auxilia para falar e escrever exemplos específicos sobre higiene pessoal.
Conforme discutido ao longo desse artigo, trabalhar com a perspectiva dos multiletramentos usando GTs digitais como o meme, pode nos ajudar (nós, professores de inglês) a motivar os alunos a se engajarem em suas aprendizagens. Incorporando memes, o GT em que os próprios alunos usam em seus dias, podemos fazer com que eles se interessem em ler e entender o que eles lêem até mesmo numa língua estrangeira como língua inglesa. Portanto, incorporar esses gêneros nas aulas de língua estrangeira, como língua inglesa, pode ser o início de um ensino motivador.
BORZSEI, L. K. Makes a Meme instead: a concise history of Internet Memes. New Media Studies Magazine Iss. 7 (2013) Availabe at: https://works.bepress.com/linda_borzsei/2/
CAZDEN, COURTNEY;COPE, BILL;FAIRCLOUGH, NORMAN;GEE, JIM; et al. A pedagogy of multiliteracies: Designing social futures. In: Harvard Educational Review. Spring 1996; 66, 1; ProQuest. pg. 60
KALANTZIS, M. & COPE, B. Literacies. Cambridge University Press: Cambridge, 2012.
KALANTZIS & COPE. The things you do to know: an introduction to the Pedagogy of Multiliteracies. (Chapter 1) In: A Pedagogy of Multiliteracies: Learning by Design. p. 1-36, 2015.
KLEIMAN, A. Modelos de Letramento e as práticas de alfabetização na escola. Os significados do Letramento – uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, p.15-61, 1995.
KOBAYASHI, S. Memes no meio digital: um olhar teórico sobre sua propagação nas redes sociais. Revista Estudos Linguísticos, v. 48, n. 2, p. 919-935, jul. 2019.
SHIFMAN, L. Memes in Digital Culture. The MIT Press: Cambridge, Masssachusetts, 2014.
XAVIER; SOUZA e OLIVEIRA. A Construção de Memes como ferramenta de ensino de Língua Inglesa. In: Revista Periferia, v.11, n.1, pp.140-161, jan./abril 2019.